Que foi uma consequência de…
… violência doméstica. De um casamento de onde fugi por violência doméstica. Foi um tratamento que foi preciso inventar ao tempo – a minha filha vai fazer 50 anos, e não é certamente dessa ligação –, pois não havia nada. Quero dizer, não havia o que há hoje, a psiquiatria, a psicologia, o Xanax, os Prozacs…
Não quer falar, e eu, evidentemente, respeito isso. Mas foi uma violência muito marcante?
Eu fugi.
Foram três meses. O casamento durou três meses…
Sim. Talvez nem tanto.
Mas casou-se por amor?
Acho que sim. Devia estar um bocadinho distraída. Repare: você ponha isto há cinquenta anos. Tinha 19 anos quando casei. E as mulheres casavam e tinham filhos e ficavam em casa a tomar conta das crianças…
… e era esse o seu objectivo de vida, aos 19 anos?
Não, eu teria sido… [pausa] Nunca pensei cantar. Jamais, em tempo algum. O meu sonho era ser professora de Germânicas.
Namoravam, casavam e tinham uma vida tranquila. Era esse o sonho das mulheres de então?
Era o objectivo de qualquer rapariga de 18 anos, daquela altura, em 1956. Uma vida pequeno-burguesa. O meu pai era chefe de uma fábrica, não era português. Talvez daí o meu lado um bocado diferente de uma mulher completamente portuguesa. O meu pai era um homem verdadeiramente extraordinário, brilhante. O meu pai era, e ainda é, o homem.
Como é que o seu pai reagiu quando soube que a sua filha ia casar-se aos 19 anos?
Tranquilamente. Naquela altura era normal. Era normal casar-se pela Igreja… Haveria já uns casamentos civis, mas muito poucos, muito poucos.
Portanto, casou pela Igreja?
Casei, casei. Em 1957, ou 56, já nem me lembro!
Esta é a 2ª parte de uma grande entrevista de Simone de Oliveira à TV Guia da semana de 13/02/09 a 19/02/09. Pedimos desculpa pela qualidade das fotografias mas foi a única maneira de as podermos partilhar convosco. Esperamos compreensão.
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