sábado, 23 de maio de 2009

Entrevista de Simone - jornal SEXTA - 1ª parte


Simone é a Desfolhada Portuguesa, todos o sabem. Mas Simone é também Avé Maria do Povo, canção com versos de Ary dos Santos que entoa quando se lhe pede para escolher um poema.

Simone é «quem faz um filho fá-lo por gosto». Simone é«Avé Mulher do povo» a quem se pede que olhe por quem está só, quase abandonado, mal-aventurado. «É canção tão terra como a Desfolhada, profundamente política e que passou despercebida», explica.

Simone é forte mas chora, olha com serenidade para o passado mas apetece-lhe dizer «olá» quando vê, na RTP Memória, Varela Silva, seu último companheiro, desaparecido em 1995.

Simone teve de tudo, agradece à vida mas perdeu muitas batalhas. Adora viver mas às vezes sente que tem 120 anos. Tem 70. Uma vida que dava um romance, um filme, muitas homenagens. Diz que teve sorte. É uma senhora.

«Nunca quis cantar, nunca quis ser actriz, nunca quis ser coisa alguma. Podia terido fazer bolos», dispara, assim, quase com indiferença. Tinha19 anos, acabado um casamento breve que a deixara de rastos. O médico aconselhara a família a mandar a menina fazer alguma coisa de que gostasse. Foi «por ali», pela música, porque a irmã dizia «ah ela tem uma voz assim». Levaram-na ao Centro de Preparação dos Artistas da Emissora Nacional. Pouco tempo depois era assim: «Quando me começo a pintar, era um bocadinho faça favor de desculpar porque tenho de ir para cima do palco». Diz que «entrou tudo em parafuso em casa». A menina, «simples e ingénua», emancipara-se cedo. «Costumo dizer que a independência das mulheres portuguesas começa quando elas dizem vou ali abaixo beber uma bica. Eu fui aos 19 anos. Tinha um pai aberto, mas,
coitado, calhou-lhe esta filha...»

A vida já lhe pregara uma partida. «E foi acontecendo, grava-se um disco, mais uma cantiga, outro êxito, um prémio.» Sem rumo, ao sabor do destino, agarrada a «fios» que a levaram por «caminhos inesperados». Foi mãe solteira duas vezes. Maria Eduarda e António Pedro, com diferença de 22 meses e hoje com 48 e 46 anos, estão formados, «nunca deram um problema». Criou-os sozinha, «sem um tostão de ajuda sequer para o livro da quarta classe». São o seu orgulho, vê-se nos olhos que se esforçam para travar as lágrimas. E o que ela chorou, em 1957. Diziam que estava amancebada. Até se arrepia só de dizer a palavra. Os sentimentos inundam Simone, que já fala quase com raiva quando recorda os dias que passou «de chapéu na mão, de igreja em igreja» a pedir que baptizassem os filhos. «Só perguntava porquê.» Foi uma tia, irmã da mãe, que a ajudou. «Traga-me cá as crianças, disse-lhe um padre da Amadora. Era um padre comunista.»
(cont.)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Ainda Maria Solidão

Agradecemos ao amigo Luis Esteves o texto que se chegue

Texto publicado em 1964 na revista Rádio e Televisão e que consta da contra do Ep de Simone que contém a canção Maria Solidão:

“Simone reinaugurou a canção portuguesa. Introduziu-lhe modernidade, lucidez e dramatismo.

A canção portuguesa era um cartaz de turismo a esfacelar-se num tapume. Tinha galo de Barcelos, tinha fole de acordeão, tinha fandango. O sol era uma lâmpada de 25 velas pintada de amarelo.

A alegria era um esgar sem cálcio. Vivia do lugar-comum, da quadra e da charanga.
Simone reinaugurou-a. Estilhaçou-lhe a estrutura rígida. Deu-lhe maleabilidade, comunicou-lhe humanidade, tornou-a habitável.

Simone intelectualizou-a, conferiu-lhe um significado, criou para ela uma linguagem certa, clara e funcional. Deu-lhe uma expressão, uma dimensão humana.

Simone invadiu-a de sensibilidade. Preencheu essa faixa vazia que está entre a palavra e a emoção.

A canção portuguesa era um manequim de museu de arte popular, com um riso de papelão e brincos de filigrana. A canção portuguesa foi actualizada e humanizada… Simone criou um estilo que é suficientemente amplo, rico e flexível para suportar um repertório. Simone não é riso que canta nem um autómato que gesticula. Cada canção é uma forma. Cada canção exige uma interpretação. Simone compreende as palavras que profere. A canção de Simone pertence-lhe, identifica-se com ela. As palavras não têm existência autónoma. É Simone que lhes dá sentido, força emocional, densidade.
Simone não é a voz obediente que articula rimas e ondula no perfil da melodia.

A canção está nela e nunca é igual.

…. Simone está entre Maysa, com a sua tristeza dolente e Piaf, com o seu desespero frenético.
Se souber exigir para o seu talento as palavras e a música do tempo e do estilo que lhe pertencem, Simone será a actriz e a voz de toda uma década.”

ARTUR PORTELA, filho
In Rádio e Televisão

O canto de Simone - Maria Solidão

Uma das canções de Simone de Oliveira (que melhor traduz a arte de Simone) é a canção "Maria Solidão"








A canção faz parte de um disco onde fazem parte o êxito "Olhos nos Olhos"

Nóbrega e Sousa/Jerónimo Bragança


Quem me fez mal
Afinal foi a vida
Eu quis viver
O prazer sem medida
Não pensei nada mais
Quis viver e perdi
Coração
E ganhei solidão
Tens ao dispôr
O amor que foi nosso
Ao menos tu
Sê feliz, eu não posso
Eu sei que já vou
A descer ao porão
Sem amor, sem ninguém
Sem perdão
Vou por aí
Sem saber o caminho
Já me esqueci
Do que é ter um carinho
Quem me vê nem supõe
Ser assim, ser tão só
Faz-me doer ter amor
E não ter
Mas tens ao dispor
O amor que foi nosso
Ao menos tu
Sê feliz, eu não posso
Eu sei que já vou
A descer ao porão
Sem amor, sem ninguém
Sem perdão
Sou infeliz ou feliz
Já não sei bem
Já não sou eu
Sou alguém que se perdeu
Sou um pregão
A gritar por aí
A saudade, ciúme, remorso, pecado
Traição
Vem tu também
Ao leilão
Quem quer comprar
Solidão

Fonte: http://oblogdoanao.blogs.sapo.pt que disponibilizou o vídeo no Youtube.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

sábado, 2 de maio de 2009

O canto de Simone - Fim de Romance

O vídeo de hoje (retirado do Youtube) é de autoria de "antoniomcmoreira".

Nele, Simone canta "Fim de Romance". O programa de Artur Agostinho é de 1962. Simone estava no início da sua carreira, dando os primeiros passos numa carreira de sucesso.

O que mais me chamou à atenção neste vídeo foram as expressões de Simone e a vida que deu à música.

Simone prova ser uma artista única. Com um estilo próprio e uma maneira de cantar tão própria que gera amor ou desamor.

Porque é merecido, um destaque merecido à música de uma qualidade excepcional


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Apresentação do espectáculo "Conversas de Camarim" - 2006 - SIC

A reportagem da SIC à estreia do "Conversas de Camarim" de Simone de Oliveira e Vitor de Sousa.