sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Simone no Correio da Manhã

A jornalista Dina Gusmão escreveu sobre Simone de Oliveira, no Correio Manhã, o seguinte artigo


24-Julho-2003
OS FACTOS E AS FOTOGRAFIAS DOS 45 ANOS DE CARREIRA
"A Simone teve duas vozes e dois destinos", diz de si própria a biografada de Nuno Trinta de Sá, sob o título "Um País Chamado Simone". Iniciativa editorial da Garrido, assinala a passagem dos 45 anos de carreira de Simone de Oliveira, a par da edição de um DVD e um CD com o selo da Vidisco.
Integrado na colecção de Fotobiografias e Grandes Entrevistas da editora, o livro sucede a outros que já deram conta da vida e obra de Fernando Pessa, Camacho Costa, Teresa Guilherme, Tony, Maya, Guilherme de Melo, José Hermano Saraiva e António Victorino d'Almeida.Não sendo esta a primeira abordagem fotobiográfica à figura da grande senhora dos palcos, qualquer palco, que é Simone, trata-se de um novo olhar, revisto e actualizado, sobre factos e fotos: o do jornalista Nuno Trinta de Sá. De diva a força da natureza ou animal de palco já lhe chamaram tudo. Chamaram mais do que merecia ouvir. A todos respondeu com a coragem de existir. Sem contemplações. Ela, que "detesta aquela coisa que inventaram, o nacional-cançonetismo que a guindou a anos de ostracismo; não percebe o gozo desta televisão, de certa sociedade que nos querem vender". Ela, que "não imagina odiar. Ela ama, ama sem base e sem fortunas. Adora a outra riqueza, chamada juventude, de espírito".

MUSA DE POETA

No ano de 1969 leva à Eurovisão a "Desfolhada" e traz para casa a controvérsia... A avaliar pela mesma, o País descobria nesse ano: "Quem faz um filho fá-lo por gosto"! Para o poeta, Ary dos Santos, Simone é, simplesmente, "Tejinho", a musa inspiradora. A ela, inspiram-na Rui Veloso e Jorge Palma, Wanda Stuart e Maria João Pires. E mais: Alice Vieira e Guilherme de Melo, a quem une laços que os mantém cúmplices na fé de que "o ser humano pode ser mais humano". Rainha da Rádio e da Eurovisão, o seu currículo é como ela, talhado no excesso, e à comédia e ao drama, soma o musical e a revista, o cinema e a televisão. Resultado: quarenta e cinco anos de carreira, desde que em 1957 se estreou no Cinema Império, Lisboa, protagonista de outra estreia: a do Festival da Canção Portuguesa. De "rainha da Eurovisão e símbolo cultural a irreverente actriz versátil", na síntese de Nuno Trinta de Sá, ela foi a menina dos festivais e a mulher de todos os ofícios."A necessidade aguça o engenho", repete a si própria durante os anos, e não poucos, que lhe levaram a voz. Adormecida a grande cantora que há-de renascer intérprete maior, sobrevive, e com ela dois filhos, dos jornais e revistas onde escreve sobre os bastidores do espectáculo. Ela que já foi mulher-espectáculo! Sobrevive a mais: um cancro de mama que vence com a mesma teimosia com que o faz diagnosticar. Fala dele com desassombro. Deste e de outros cancros: do aborto à adopção do euro. Desconfia-se que não sabe falar de outra maneira... "Na verdade, a determinação e a ética caminham, em Simone, de mãos dadas", lê-se nas primeiras linhas.Por último, registe-se, isto não é uma biografia. É "uma obra na primeira pessoa, a dela, baseada numa conversa gravada de horas a fio, na sua casa ao Príncipe Real, em Lisboa, num fim-de-semana num hotel de Espinho, numa entrevista antiga, em meses de várias pesquisas, leituras e depoimentos". Ainda assim, insiste- -se, por insistência do autor, não é uma biografia. É um "perfil emotivo" de quem, lê-se nas entrelinhas, chegou com conversa sedutora e partiu seduzido pela conversa.

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