"Foi preciso esperar até aos 64 anos para conhecer não só o Nordeste brasileiro, como, principalmente, as mágicas paragens baianas”, afirmou, com um ar encantado, Simone de Oliveira ao chegar a São Salvador, para assistir à inauguração oficial do Hotel Pestana Bahia. Depois de já ter passado uns dias em Natal, onde participou, igualmente, na festa de abertura de uma nova unidade de luxo do grupo hoteleiro português, a cantora mostrou-se tão encantada com as surpresas que constavam no programa da estada que afirmou, reconhecida: “Tenho de agradecer muito, muito mesmo, ao Dionísio Pestana , por me ter convidado para a inauguração destes seus novos complexos turísticos. Estou verdadeiramente maravilhada com o acolhimento VIP que nos tem proporcionado. Sendo portuguesa, fico muito vaidosa por ver o nosso país tão bem representado no estrangeiro.” Alargando o gesto de forma meio teatral, exclamou ainda: “Sim senhor, isto é o que eu chamo qualidade de vida. Ainda bem que existem bons empresários e revistas como a CARAS, que nos proporcionam férias destas, que só existem no nosso imaginário. Até parece que sou rica.” (risos) Uma exclamação dita em tom de brincadeira, mas que, como nos afiançaria mais tarde, “é uma realidade inerente à maior parte dos artistas em Portugal”. Nem o seu prestígio, nem os 45 anos de carreira artística, honrando o país aquém e além-mar, chegaram para que o futuro fosse mais sorridente para Simone.“Na minha vida, as coisas nunca me foram servidas de bandeja. Comecei a cantar não porque quisesse seguir uma carreira profissional, mas porque o médico me receitou o canto como terapia, pois estava com uma grande depressão, causada por um problema sentimental. Apesar deste princípio de carreira ser apenas terapêutico, dei nas vistas, e a minha saga musical começou rapidamente, com muita força”, relembrou, momentos antes de colocar o belo vestido azul- claro, evocando Iemanjá, e o turbante feito de quatro panos com que quatro baianas, trajadas também a rigor, lhe cobriram os cabelos. E continuou a desfiar algumas das suas memórias: “Não sou uma mulher fácil, nunca fui. Olhei sempre para as pessoas de frente e disse-lhes sempre o que pensava, arriscando-me, por vezes, a alguns dissabores. Mas não lamento ser assim. Graças a Deus, tenho um génio ‘simoniano’, que, quase de certeza, herdei dos meus avós, o avô Egídio de Macedo, um mulatão fantástico e com imensa raça, de São Tomé, e a avó Jane, uma mulher com fibra, que desafiou a sociedade do seu tempo para fazer valer o seu amor.” No terreiro construído para cenário das nossas fotos, as baianas espalhavam agora pétalas de rosas brancas e acendiam velas. O barulho das ondas misturava-se com o som dos atabaques, numa ladainha que ajudava à evocação de memórias “Tenho ‘apanhado’ muito da vida, mas mesmo assim não lhe viro a cara. Sou uma mulher de paixões tão fortes e avassaladoras que por vezes se transformaram em notícia nacional”, afirmou, sem querer mencionar nomes, embora na memória das pessoas tenha ficado para sempre um dos mais badalados romances dos anos 60, o da cantora com o então galã televisivo Henrique Mendes. “Foram tempestades maravilhosas e fortes, que enfrentámos juntos, mas um dia tudo acabou e o destino fez com que não ficasse mais do que uma recordação. Na minha vida é tudo muito bizarro”, afirma, com uma subtil ironia, continuando: “São muitas as lutas que estão no meu diário. Primeiro, foram as cordas vocais que deram de si, e eu fiquei sem voz. Depois, quando conheci o Varela (Silva, ndr.), pensei que estava ali o meu companheiro para o resto dos dias da minha vida”, diz, lembrando o actor com quem foi casada 23 anos. “Vivemos juntos, casámos, ele foi o marido e o companheiro ideal, que me ajudou a enfrentar um dos piores momentos da minha vida, quando me detectaram um cancro na mama e tive de tirar o peito. Consegui sobreviver, graças ao seu apoio, não só à doença como também à dor de ver o meu corpo decepado. Infelizmente, passados anos, foi a vez dele contrair também um cancro. Desta vez, o destino disse ‘não’, e ele partiu. Voltei a ficar sozinha, embora tenha três netos e dois filhos fantásticos. Cada um tem a sua vida: a Eduarda vive no Luxemburgo e o Pedro, embora esteja em Lisboa, não pára. A vida é mesmo assim, não temos nada que reclamar. Quando eu estiver já muito velha e não der conta de mim, já disse, e sem dramas, que a Casa do Artista tem lá um quartinho à minha espera, porque a vida de artista é mesmo assim. Umas vezes somos remediados para cima, outras para baixo.”Lá em baixo, na orla da praia, os atabaques fizeram-se ouvir de novo, desta vez acompanhados por um coro de vozes que, num dialecto estranho, evocava os orixás.“É um cântico de amor a Iemanjá, a deusa das águas, para trazer luz e boa energia ao mundo”, explicou a baiana mais velha, que estava trajada de vermelho. “É um bom presságio para você, pois está vestida com as suas cores. Ela gosta de você”, disse à convidada.Sorrindo docemente, Simone sentou-se no chão e, pegando nas mãos daquela mulher negra que ainda olhava os búzios, disse com doçura: “Acredito que sim. Nada acontece por acaso, e se estou a viver estes momentos lindos na minha vida é porque o mereço.” Olhando para o céu nublado, agradeceu com três simples palavras: “Obrigada, obrigada, obrigada.”
domingo, 9 de novembro de 2008
Imprensa e Simone - "Em férias de sonho, Simone descobre a magia baiana!"
Reportagem da revista Caras (28/Maio/2002), extraída do sites star.sapo.pt
Reportagem e foto de Abel Dias
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